Tão longe e tão perto
O idioma, talvez, não seja a maior barreira entre passo-fundenses e chineses. O abismo cultural provocou, na noite de abertura,uma reação desconfiada do público, que, aparentemente sem compreender, aplaudiu de forma receosa e educada a apresentação do grupo China Lijiang Sond and Dance Ensemble . Reação bem diferente das crianças na manhã de terça-feira, que se encantaram com a apresentação e aplaudiram com entusiasmo a beleza e a simpatia do grupo chinês – uma prova de que as crianças são livres dos inúmeros preconceitos que carregamos quando adultos.
O grupo, da província de Yunnan – República Popular da China – trouxe ao festival um pouco da sua história. Entre as inúmeras formas de folclore apresentadas, a Dongba, da nação Naxi, faz parte de uma das minorias na China. Segundo He Shaoping, diretor do grupo, toda a música e dança que eles trouxeram para o Brasil tem uma longa história e muitos significados. Shaoping mostra um tambor, muito típico e tradicional, que traz desenhado uma escrita antiga: “Penso eu, é uma das mais antigas pictografias no mundo.” O diretor também conta que a cultura Dongba é moderna, mas, ao mesmo tempo, muito antiga entre as minorias chinesas, porque eles têm um sistema cultural próprio, separado e completo. “Na China, nós temos 56 minorias e nacionalidades, nós chamamos de famílias culturais chinesas. A cultura Dongba é uma delas.”
Cultura (e culinária) familiar
Ao contrário dos chineses, o grupo Cia Artística Ñitapé, do Equador, estava se sentindo em casa. Pelasegunda vez no festival (a primeira foi em 2006), o diretor do grupo Augustin Llumiquinga, conta que estão muito felizes de estar em Passo Fundo e que a cidade é muito bonita. “É uma cidade cultural em que crianças, jovens, adultos desfrutam do folclore do mundo, nos sentimos, como artistas, muito alegres de compartilhar nossa cultura.”
O espetáculo apresentado foi um misto de danças mestiças: um baile de conquista, uma dança mais divertida – El Comisario Municipal, inspirada na vivência da província de Pichincha, onde os homens que possuem autoridade e grandeza procuram conseguir a atenção das vendedoras, mas, com sua malandragem e rapidez, elas os têm sempre nas mãos - e uma dança indígena de uma província do sul do país cheia de significado: “É uma dança que se faz como um ritual de agradecimento quando uma criança vai ao céu, se agradece porque é algo divino,” conta.
O grupo já esteve em festivais em todo o mundo, mas Augustin comenta que em Passo Fundo é diferente: “O calor das pessoas, a amabilidade, o carinho, nós nos sentimos como em casa e a comida é muito parecida,” brinca.