Olhos no palco, o Festival começou!
Sentada numa das cadeiras, no centro do Circo da Cultura, Angélica pergunta aos pais se falta muito para a luz apagar. “É a hora que começa!”, explica. A menina, que tem 10 anos, aguarda a abertura do XI Festival Internacional de Folclore. Inquieta, é a noite em que prestigiará a mistura de culturas que subirão ao palco.
Na última vez em que a menina esteve no Festival de Folclore, o espaço era muito diferente. A lona de circo foi substituída por uma estrutura mais segura e mais confortável. E, na última vez em que eu estive, tudo era muito “amador”, construído sem muitos recursos, mas buscando acolher, da melhor maneira, a própria cultura. A não realização da edição, em 2010, fomentou vontades e desejos de uma qualificação do festival e, através do voluntariado, de apoio e patrocínio, a XI edição iniciou com o pé direito.
Sem uma pauta fixa, decido escrever sobre as minhas impressões sobre o primeiro dia do festival. E, apesar de estar a trabalho e de já ter visto pelo menos umas quatro edições do Festival de Folclore, quando a luz apaga e a voz de um gaúcho se espalha pela lona, a minha emoção é a mesma que a de Angélica. A voz lia os pensamentos de quem estava ali, com a lembrança da última vez em que o Parque da Gare recebeu a lona: “Quando a magia da lona se vai, no peito da gente a saudade não sai”.
No palco todas as bandeiras se agitam. As cores e formas se confundem tamanha a diversidade dos rostos e dos traços. E as impressões de quem assiste vão além do que é mostrado no palco, ultrapassam o aspecto cultural instalado a quilômetros de distância de Passo Fundo, mas que faz questão de passear por aqui durante essa semana. E o público aplaudiu. Aplaudiu quando duas bandeiras se uniram, quando uma falha no som impediu a apresentação imediata da Rússia e aplaudiu quando voluntários varreram o palco.
Campeãs de aplausos, a Argentina, a Itália e a Rússia despertaram a atenção do público. A primeira, com a dança muito parecida com a gaúcha e com as saias que se transformavam na bandeira do país, mostrou que a vizinhança torna a cultura muito próxima e que a rivalidade vivida no futebol não tem espaço debaixo da lona. Os italianos, talvez os mais esperados da noite, trouxeram um pedaço da Idade Média para o palco e, com uma habilidade espantosa, fizeram o jogo das bandeiras – uma espécie de luta na qual as bandeiras são jogadas a todo o momento para o alto. Surpreendentemente, a Rússia contagiou o público. A dança se confundiu com o teatro e não deixou o público piscar. A beleza delicada das russas e o fato de representarem guerreiras e lutarem retrataram uma sutil contradição.
O público viu na China uma incógnita. A dança típica Ze-me-tso é uma junção de dança e canto. Disciplina e organização resultaram na perfeição de movimentos extremamente coordenados, conexos e simultâneos. Independentemente do abismo cultural existente entre chineses e brasileiros, é válido ressaltar que as barreiras da distância às vezes não permitem que a diversidade seja contemplada e, no palco, a China pôde comprovar a importância de se aplaudir, também, aquilo que não parece bonito aos nossos olhos, mas que retrata a diferença.
Saias coloridas, dragão, cangaceiros e mulheres com enormes tranças. O sorriso no rosto de quem assiste, a cada fim de apresentação, confirma: o evento nasceu para tirar o povo passo-fundense da rotina e transportá-lo para um momento mágico. A música feita para o Festival de Folclore não poderia caber melhor na situação – raças se unem, preconceitos se partem e a diferença se mostra cada vez mais igual.
Confira as galerias de fotos da abertura do festival aqui e aqui.